SOMBRA DO ENCARCERAMENTO: o entorno das prisões

À sombra do encarceramento é um título sugestivo para esta tese. Sombras
perseguem, escondem, ameaçam, dominam, e, por vezes, “assombram”. As sombras são
também veículos que transportam magníficas imagens psicológicas: não gozam de boa
reputação, são sempre associadas ao que é enganoso, perigoso, ameaçador. Em geral,
carregam significações negativas, estranhas, invasivas. Andam sempre envoltas na
suspeita e no medo. As sombras são misteriosas e sedutoras, escuras e inquietantes.
Não inspiram confiança e não são boas companhias. Pensar na riqueza das metáforas e
das histórias inventadas sobre as sombras trouxe-me inspiração para a escrita da tese.
Que outra imagem poderia ser tão apropriada para representar (ou irrepresentar) os
sentimentos que uma pessoa passa a experienciar a partir do encarceramento de um
parente próximo? Ter um familiar na prisão é como estar na companhia ininterrupta de
uma sombra: uma sombra maldita e amaldiçoada que persegue e não se afasta. É nesse
sentido que esta pesquisa se dedica ao estudo do entorno prisional, desenhado pelas
famílias que passam a residir nas proximidades dos presídios para continuarem
mantendo o vínculo com o parente preso e, dessa forma, partilharem a prisão. Além
disso, este estudo colabora com a compreensão das infâncias roubadas, cujas crianças se
tornam vítimas e algozes nesse processo de encarceramento familiar. E termina,
mostrando que o cárcere não acontece somente na prisão real, mas também, e sobretudo,
na subjetiva. Ao narrarem o que se passa em suas subjetividades, esses familiares
revelam sentimentos que têm o poder de enclausurá-los ou libertá-los. A humilhação e o
ressentimento enclausuram. O perdão liberta.

https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/16312/1/SombraEncarceramentoEntorno.pdf